Desfazendo-se dos entulhos mentais

A nossa casa é o espelho da nossa mente.

Se deixamos a sujeira se acumular pelos cantos, também estamos deixando a sujeira mental se acumular nos cantos da mente, gerando larvas psicológicas que se alimentam do que há de podre no ambiente.

Se deixamos a bagunça imperar por toda a parte, também estamos mantendo a mente desorganizada. Não conseguimos achar nada do que precisamos no mundo físico e, igualmente, não somos capazes de encontrar as boas ideias que vão solucionar a nossa vida.

Se tudo por fora parece arrumado, mas basta abrir uma porta para quase ser soterrado por coisas empilhadas, isso demonstra que também, mentalmente, temos o hábito de apenas manter as aparências e enganar os outros – e nós mesmos, principalmente –, mostrando que está tudo bem, quando, na verdade, a poeira está sendo apenas varrida para baixo do tapete.

Não haveria de ser diferente com os objetos velhos que acumulamos. Quanto espaço é inutilizado porque está ocupado por verdadeiras tranqueiras que não usamos há anos – ou pior, que nunca usamos! Quando a nossa casa é tomada por itens desse tipo; quando eles se sobrepõem em numero às coisas de que realmente fazemos uso; quando nos falta espaço físico para o que é importante, porque tudo está tomado por tralhas inúteis; quando não conseguimos nos desfazer de coisas velhas, quebradas, rasgadas, por um apego emocional ao passado, o que isso diz sobre o estado da nossa mente? Em que tempo estamos vivendo, quando fazemos isso?

O único tempo possível de se viver é o presente: nem o passado, nem o futuro. Quando gastamos a maior parte do dia vivendo um tempo e um lugar que não sejam o aqui e o agora, geramos doenças. Quando nossa casa está entulhada de objetos do passado do qual não conseguimos nos desfazer, nossa mente também está entulhada de lembranças que apenas ocupam espaço, nos fazem mal, chamam larvas e bactérias mentais para consumi-las, e nos fazem gastar energia emocional para estar sempre lidando com elas, porque estamos sempre esbarrando nelas e lembrando delas, revivendo esse sofrimento ou vivendo o sofrimento por não estar mais aquele tempo. Como alguém vai encontrar alguma alegria na vida desse jeito? Como alguém vai ter espaço mental para que se manifeste a criatividade dessa forma?

Desfazer-se das coisas materiais que não nos servem mais é desapegar-se do passado que também não nos serve mais. Não podemos deixar que o passado nos enfraqueça. Dos dias difíceis devemos tirar as lições que nos cabem, dar novos significados que nos livrem da culpa e da mágoa, e nos façam seguir em frente; os dias felizes devem ser guardados para nos dar forças nos dias tristes.

Meu desejo é que você, neste fim de ano, consiga rever os cantinhos entulhados da sua casa e se desfazer daquilo que não lhe serve mais. Porque um dia todos iremos embora e não levaremos nada de material. Que levemos então a alma e o coração leves, nos desfazendo de todos esses pesos desnecessários. Que a passagem de ano represente essa morte de tudo o que queremos deixar para trás e que o novo ano seja um renascimento de uma vida transformadora.

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