Dimensões

Há coisas que a nossa razão limitada não consegue compreender. Forças ocultas que operam nas nossas vidas colocando as coisas no seu devido lugar.

Uma palavra, um gesto, um pensamento, uma ideia pode dar início a uma série de eventos inimagináveis.

No caos do universo há uma ordem além da nossa compreensão. Realidades que nossos sentidos não são capazes de apreender.

Uma teoria nunca será capaz de explicar o todo, mas apenas jogar luz sobre as partes, criando sombras.

O melhor caminho é unir forças para entender a pequena fatia que nos cabe nessa constelação de galáxias.

O julgador

Por quanto mais tempo eu deveria permanecer acorrentada?

Não

Agora chega

Eu me liberto

Já cumpri minha pena por tempo demais

A minha vida não está no passado

Você sempre chamou de erro

Hoje eu chamo de aprendizado

E sigo em frente

Olho para trás sem dor

Olho para trás com amor

Amor é o que falta em você

Por que você o recusa?

O amor não veio complicar as coisas

Mas resolvê-las

Mas, para resolver as coisas, você precisa ver

Você precisa estar pronto

Mas nunca estamos prontos

Você precisa estar disposto

Você precisa encarar-se

Na escuridão da noite

Às vezes, ele vem

Às vezes, ele vem de dia também

E diz que vai me matar

Porque mereço morrer

Porque fiz muitas coisas ruins

Já tive muito medo e dormi de luz acessa

Já o enfrentei, já esbravejei de volta, já medi forças

Já o convidei sarcasticamente para tomar um chá

Hoje eu apenas o vejo

Eu apenas o sinto como uma pessoa real

Na minha frente

(Ele não fica mais atrás de mim)

E digo

Você não precisa mais me odiar

Você pode seguir com sua vida

Eu sinto muito pelo que aconteceu com você

Mas não precisa mais ser assim

Você também faz parte de mim

Você pode seguir em frente e eu também

Não serei mais sua prisioneira

Não seremos mais prisioneiros

Eu abro a porta da nossa cela

E agora nós podemos voar

Sem o peso da culpa

Quando deixamos de nos julgar, perdemos o interesse em julgar os outros. Não vemos mais necessidade nisso. Muitas vezes, que fazemos externamente com os outros, também fazemos internamente conosco mesmos.

Digo por experiência própria que o julgamento pode vir como uma distorção do sentimento de culpa, uma distorção bastante hipócrita. Reconhecemos que já erramos justamente naquilo que criticamos nos outros, mas nos consideramos superiores a quem ainda age daquela forma. Em vez de compreendermos o lugar onde o outro está (onde já estivemos), preferimos apontar publicamente e jogar-lhe lama.

Mas esquecemos que, para jogar lama nos outros, sujamos também as próprias mãos.

Ao julgarmos demais a conduta dos que estão à nossa volta, também julgamos duramente a nossa. E por quê? Por que se dar ao trabalho de ser tão crítico de si mesmo, em vez de ser o seu melhor amigo? Você se acha realmente uma pessoa tão ruim assim? Você esconde segredos que, se as pessoas à sua volta soubessem, nunca mais iriam te olhar da mesma maneira? Adivinhe: a maioria das pessoas pensam isso também. Será que todo mundo é tão ocultamente perverso?

Ou somos apenas pessoas que, em alguns momentos, não fizeram as melhores escolhas, mas estão buscando uma vida melhor agora? Temos que pagar penitência eternamente? Que visual cruel da vida!

Muitas vezes o sentimento de culpa não começou em nós. Muitas vezes nem é nosso. Só tem sido passado adiante. Você está carregando a culpa de alguém e transformando-a em sua? Sabe, você não tem que carregar um peso que não é seu.

O sentimento de culpa não traz nada de bom. Gera o desprezo por si mesmo e o julgamento dos outros. Gera a receita do descontentamento com a vida. Liberte-se. É importante reconhecer seus equívocos e buscar não fazer mais as coisas daquela forma. Temos que encarar também as consequências das nossas ações. Mas a culpa não precisa ser essa consequência. Você pode se libertar desse cárcere.

Você pode escolher aprender uma lição com o que aconteceu, em vez de escolher ser um penitente pelo resto da vida. Você pode escolher olhar para trás e reconhecer que não se orgulha de muitas coisas, mas que agora está comprometido em construir um presente e um futuro melhores. Você não precisa viver preso ao passado. O passado não te define.

Quando vemos a vida como um constante aprendizado, as coisas ficam mais fáceis, porque errar faz parte de aprender. Quando vemos a vida como um constante teste de nosso valor, as coisas ficam mais difíceis, porque, se você não tiver o desempenho que esperava, vai se considerar um fracassado e vai desistir. Mas o que você chama de “fracasso” pode ser visto como apenas uma tentativa que não deu certo. E você é livre para fazer tentativas diferentes! Podemos aprender com os erros, em vez de evitá-los a todo custo e sofrer infinitamente com eles.

Não temos que ser perfeitos, porque ninguém é, nem nunca será. Só precisamos ser nós mesmos, em constante evolução e aprendizado. E isso já basta.

Uma mensagem de Natal

mensagem natal 23-12

Um tempo para respirar

Tudo é energia. Tudo é vibração.

Que tipo de energia estamos colocando no mundo?

Que tipo de vibração cultivamos à nossa volta?

Tudo o que pensamos, sentimos e falamos, e a forma como agimos cria um campo de energia que impacta tudo à nossa volta. As pessoas, os animais, as plantas, os objetos recebem essa energia que jogamos neles, simplesmente por estarmos ali ao seu lado, vivendo.

Que tipo de energia temos jogado no mundo na maior parte do dia?

Que energia buscamos para nós?

Não é para suprimir os sentimentos, dizendo que não podemos senti-los. É importante reconhecê-los e trabalhá-los. Mas, muitas vezes, nem sabemos o que estamos sentindo. Nem sabemos identificar que energia é essa. Muitas vezes, o mal-estar perdura por tanto tempo que faz parte do nosso cotidiano e nem nos damos conta de que é possível viver sem ele, que houve uma época em que não vivemos assim.

A meditação ajuda a calar os pensamentos distrativos da nossa mente e a revelar os sentimentos que estamos ignorando. Mas, no começo, pode ser desafiador. Meditar, relaxar, tirar um tempo para “não fazer nada produtivo” pode ser radicalmente contra o nosso estilo de vida, tão atribulado e corrido, cheio de coisas a fazer. Mas qual é a qualidade dessas coisas que temos feito? Será que realmente precisamos estar sempre fazendo algo? Será que precisamos preencher cada segundo do nosso tempo livre com uma atividade que nos impede de passar alguns minutos conosco mesmos?

Ficar a sós consigo mesmo é um desafio. Não queremos ouvir nossos pensamentos, não queremos nos deparar com nossos sentimentos. Mas é preciso. Senão apenas geramos energias de ansiedade, frustração, tristeza, raiva, sem nos dar conta. E, sem nos dar conta, adoecemos e adoecemos tudo à nossa volta.

Desafio você a separar cinco minutos do seu dia, mesmo que seja na hora de levantar (acorde cinco minutos antes), para apenas sentar-se, com a coluna reta e os pés no chão, fechar os olhos e prestar atenção na sua respiração. Deixe os pensamentos passarem por você e se concentre na sua respiração. Se puder, separe um tempo maior para isso. Em dias em que tem mais tempo livre, desenhe ou escreva o que vem à mente após fazer essa pequena meditação. Não se preocupe em produzir algo de grande qualidade artística ou que faça algum sentido para alguém além de você mesmo. Esse ritual leva a uma conexão maior consigo mesmo, com seu corpo, com suas emoções, com sua mente.

Vai haver dias em que você vai esquecer de fazer isso, em que não vai querer fazer, em que os barulhos externos vão incomodar e as pessoas da casa também. Não importa. Se pular um dia, faça no outro. Se deu raiva por causa das interrupções, repita no dia seguinte. Se não conseguiu se concentrar, continue fazendo por mais um dia. Se dormiu durante a meditação de hoje, faça de novo amanhã e se esforce para ficar acordado. Não aceite desculpas para desistir de si mesmo. Porque não há desculpas aceitáveis para isso.

Cinco minutos por dia. Não estou pedindo nada impossível.

A vida mal nos dá tempo para respirar, mas precisamos reagir contra isso. Podemos nadar contra a corrente frenética que carrega todos para uma vida sem satisfação, sem realização, sem sentido. Não estou dizendo isso da boca para fora, eu estou vivendo todo esse processo, com todas as suas dificuldades e contratempos, e estou dizendo que é possível vencer.

Tudo começa com você parando de fugir de si mesmo.

Furacões

Uma lágrima que rola para dentro.

Uma pontada no coração.

Queremos ser fortes.

Mais fortes do que o furacão que arrebata tudo à sua volta.

Não é possível controlar o furacão. É preciso deixar ele passar e carregar o que tiver que carregar. Construiremos tudo de novo.

Uma prece.

Uma luz.

Nos ajude a ter forças para caminhar, para dar mais um passo no que parece ser a direção certa.

Às vezes, parece que não vamos conseguir. Mas sempre conseguimos. É só ver a nossa própria história. Por algum milagre, chegamos até aqui.

Um passo de cada vez. Um dia de cada vez.

Os sentimentos vêm. Nos permitimos sentir. Mas também deixamos os sentimentos irem. Não podemos negá-los, mas também não podemos nos apegar a eles. Deixamos ir.

Vemos a vida de outra forma quando temos mais compaixão para conosco mesmos e para com os outros. Todo mundo está fazendo o seu melhor, o que acha ser o certo para lidar com problemas tão difíceis de solucionar.

Precisamos ser fortes para, quando cairmos, não permanecermos no chão e levantarmos para mais um dia, para mais uma batalha.

Desfazendo-se dos entulhos mentais

A nossa casa é o espelho da nossa mente.

Se deixamos a sujeira se acumular pelos cantos, também estamos deixando a sujeira mental se acumular nos cantos da mente, gerando larvas psicológicas que se alimentam do que há de podre no ambiente.

Se deixamos a bagunça imperar por toda a parte, também estamos mantendo a mente desorganizada. Não conseguimos achar nada do que precisamos no mundo físico e, igualmente, não somos capazes de encontrar as boas ideias que vão solucionar a nossa vida.

Se tudo por fora parece arrumado, mas basta abrir uma porta para quase ser soterrado por coisas empilhadas, isso demonstra que também, mentalmente, temos o hábito de apenas manter as aparências e enganar os outros – e nós mesmos, principalmente –, mostrando que está tudo bem, quando, na verdade, a poeira está sendo apenas varrida para baixo do tapete.

Não haveria de ser diferente com os objetos velhos que acumulamos. Quanto espaço é inutilizado porque está ocupado por verdadeiras tranqueiras que não usamos há anos – ou pior, que nunca usamos! Quando a nossa casa é tomada por itens desse tipo; quando eles se sobrepõem em numero às coisas de que realmente fazemos uso; quando nos falta espaço físico para o que é importante, porque tudo está tomado por tralhas inúteis; quando não conseguimos nos desfazer de coisas velhas, quebradas, rasgadas, por um apego emocional ao passado, o que isso diz sobre o estado da nossa mente? Em que tempo estamos vivendo, quando fazemos isso?

O único tempo possível de se viver é o presente: nem o passado, nem o futuro. Quando gastamos a maior parte do dia vivendo um tempo e um lugar que não sejam o aqui e o agora, geramos doenças. Quando nossa casa está entulhada de objetos do passado do qual não conseguimos nos desfazer, nossa mente também está entulhada de lembranças que apenas ocupam espaço, nos fazem mal, chamam larvas e bactérias mentais para consumi-las, e nos fazem gastar energia emocional para estar sempre lidando com elas, porque estamos sempre esbarrando nelas e lembrando delas, revivendo esse sofrimento ou vivendo o sofrimento por não estar mais aquele tempo. Como alguém vai encontrar alguma alegria na vida desse jeito? Como alguém vai ter espaço mental para que se manifeste a criatividade dessa forma?

Desfazer-se das coisas materiais que não nos servem mais é desapegar-se do passado que também não nos serve mais. Não podemos deixar que o passado nos enfraqueça. Dos dias difíceis devemos tirar as lições que nos cabem, dar novos significados que nos livrem da culpa e da mágoa, e nos façam seguir em frente; os dias felizes devem ser guardados para nos dar forças nos dias tristes.

Meu desejo é que você, neste fim de ano, consiga rever os cantinhos entulhados da sua casa e se desfazer daquilo que não lhe serve mais. Porque um dia todos iremos embora e não levaremos nada de material. Que levemos então a alma e o coração leves, nos desfazendo de todos esses pesos desnecessários. Que a passagem de ano represente essa morte de tudo o que queremos deixar para trás e que o novo ano seja um renascimento de uma vida transformadora.

Ano Novo

Os anos vão e vêm como ondas

Nas ondas do mar eu lavo meus pés cansados

eu lavo minhas mãos trêmulas

lavo meu caminhar torto

e meu fazer incerto

No silêncio da alma

a concha no ouvido canta as ondas que batem nas areias brancas

uma sereia sai das águas e tira uma estrela da sua coroa

e a coloca entre as minhas mãos

Os ventos secam minhas lágrimas

e já não é mais tão difícil levantar

Silêncio interior

Eu apenas sou.

Não anseio pelo futuro.

Não lamento o passado.

Perdoar o que fomos, porque é muito injusto cobrarmos do eu no passado a mentalidade que temos hoje. Até porque só chegamos à compreensão que temos hoje por causa do passado. Querer apagar o passado é querer apagar a si mesmo. Querer mudar o passado é não aceitar o presente. Mas o presente está aí, quer aceitemos ou não. E não aceitar apenas dói mais, porque ele não vai embora.

Não alimentar o sentimento de culpa. Entender que tudo aconteceu por um motivo, mesmo que você não saiba qual foi. O tempo caminha em uma só direção e a vida também. Para frente.

Quanto tempo perdemos imaginando outras realidades que teriam acontecido se tivéssemos tomado uma decisão diferente no passado! Quanto tempo perdemos sofrendo por possibilidades futuras que, muitas vezes, não chegam a se concretizar! E toda a energia que despendemos pensando nisso nos deixa paralisados diante do presente, que é a única instância em que podemos atuar. O único momento em que podemos agir para mudar as circunstâncias é o agora e, no agora, não agimos porque perdemos tempo vivendo outros tempos.

O sentimento de culpa dói. Faz você querer se destruir. Faz você achar que não é merecedor de nada bom. Aceite o passado, aceite que você errou, pense em como agiria de forma diferente hoje e quais lições aprendeu. E deixe ir. Deixe ir a mágoa em relação a si mesmo, em relação aos outros. Não se prenda a isso. Não prenda isso dentro de você. Sinta que um rio passa por você e leva embora toda a tristeza, a mágoa, a raiva, a culpa. Lava a alma e leva tudo para o fundo do mar.

E agora você pode viver uma vida nova. Agora você é uma pessoa melhor.

Sobre borboletas

Hoje eu não quero falar de nada sério.
Hoje eu quero viver com mais leveza.
Cada vez mais tenho certeza de que criamos o caminho que aparece à nossa frente.
Mas é preciso ter muita paciência para que as coisas comecem a acontecer.
Hoje eu quero ouvir o canto dos pássaros.
Hoje eu quero sentar à beira de um lago e sentir o vento no meu rosto.
Hoje é um dia perfeito para isso, porque não está sol e também não está frio.
No entanto, preciso fazer outras coisas. E está tudo bem.
Tudo fica bem quando você simplesmente aceita o que é.
E as coisas vão se encaixando de forma a dar tudo certo, de forma a você ter tempo para se dedicar às coisas que são mais importantes.
O mais importante é o seu crescimento, as suas vitórias sobre si mesmo.
O mais importante são as relações humanas. Mas você só vai dar o melhor de si para os outros quando conseguir se relacionar melhor consigo mesmo. E aí voltamos ao vencer a si mesmo.
Hoje estou feliz e é só isso o que importa.
Feliz pelo dever cumprido a cada dia.
O dever de fazer as coisas que vinha adiando há tanto tempo.
Hoje estou feliz por ver que estou vencendo uma etapa dolorosa da vida.
A melancolia.
A melancolia não me deixava ver nada de bom. Eu não enxergava a sujeira, a bagunça e simplesmente não me importava. Quando passei a me importar, não conseguia fazer nada para mudar.
Ainda há um longo caminho a percorrer, passo a passo. É uma luta diária para não me deixar levar pela inércia e o “amanhã eu faço”.
Não. Hoje eu faço. A vida acontece hoje.
Aqui e agora.
Porque o amanhã não me cabe, além de fazer acontecer agora.
Às vezes, me pego pensando sobre o que acontecerá em um dia determinado. Como agirei, que decisão tomar? E aí tenho que rir: por que essa ansiedade toda? Vamos viver um momento de cada vez. Vamos deixar o que não está sob nosso controle simplesmente acontecer. E aí veremos o que vamos fazer.
Porque só temos o agora. Podemos planejar o futuro, mas não podemos controlá-lo. E só podemos agir agora.
Vê como perde o sentido se preocupar tanto?
Vamos apenas viver o presente. Só por hoje.